Por Amanda Paim
Um cansaço que não some, mesmo após horas de descanso, noites de sono agitadas com insônia e sono durante o dia. Apetite que oscila entre a compulsão e a total falta de fome. Dificuldade de se concentrar em tarefas rotineiras, sensação de fracasso e queda de rendimento. Esses sintomas são característicos da Síndrome de Burnout, doença que corresponde à fadiga e estresse causados pela carga de trabalho.
No Brasil, cerca de 30% das pessoas ocupadas sofrem com essa síndrome, conforme dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Ainda assim, seu diagnóstico é um desafio, por ter sinais que se assemelham com outras condições de saúde mental.
Um incêndio silencioso
A psicóloga organizacional, Thaiana Rocha, já esteve nos dois lados da situação. A profissional já teve Burnout em algum momento de sua carreira e lida também com pessoas que sofrem com essa síndrome.
Ela descreve o Burnout como “um incêndio silencioso” que começa afetando a mente e, gradualmente, atinge o corpo. Essa doença a atingiu num momento em que se sentia extremamente cobrada, pois vinha de uma separação e tinha filhos pequenos, o que aumentava a pressão sobre ela.
”Um dos starts que tive para perceber o que estava acontecendo é que tive uma crise de ansiedade e fui ao médico achando que estava tendo um infarto. Mesmo sendo profissional da saúde, não consegui reconhecer os sinais naquele momento e nos exames não foram identificados algo relacionado a minha saúde’’, relembra.

Ela descreve como as férias e pausas, que normalmente a ajudavam a se recuperar, já não estavam mais suprindo as necessidades emocionais e psicológicas. “Era como se o desgaste emocional fosse insuportável, e comecei a perceber que não poderia dar conta de tudo,” reconhece. Esse foi um grande ponto de virada para ela, pois teve que identificar e impor os limites.
Sintomas do Burnout
Segundo a psicóloga, os principais sinais incluem:
- Cansaço frequente, mesmo após longos períodos de descanso;
- Queda de produtividade e falta de motivação, como se atividades que antes traziam prazer perdessem o sentido;
- Distanciamento de colegas;
- Alterações no sono e apetite;
- Crises de ansiedade que podem ser confundidas com problemas físicos.
Embora os sintomas possam parecer muito com estresse, Thaiana revela que uma condição é mais profunda e duradoura e é importante entender as diferenças para buscar o tratamento adequado.
”O Burnout é uma condição de exaustão mental e física crônica, diferente do estresse comum. Enquanto no estresse a recuperação ocorre com descanso, no Burnout o cansaço persiste mesmo após longas pausas. É reconhecido como doença ocupacional e pode levar a depressão e ansiedade se não tratado’’, explica.
Causas e contexto
A profissional lista a combinação de fatores que pode levar ao Burnout:
- Pressão excessiva e cobranças irreais;
- Alta demanda;
- Ambientes corporativos tóxicos;
- Falta de comunicação e clareza;
- Dificuldade em estabelecer limites pessoais.
Para ela, o Burnout é uma questão organizacional e não apenas uma responsabilidade individual. No entanto, ela sugere que cada pessoa defina “seus próprios limites”, especialmente para quem tem dificuldade em dizer não e que o autoconhecimento é fundamental para conseguir isso.
“Saber até onde você pode ir é fundamental para evitar o desgaste excessivo”, afirma. Para ela, a terapia é essencial para que as pessoas se conheçam e cuidem de sua saúde mental de forma eficaz.