Por Amanda Paim
O Dia dos Pais é uma data ainda pouco celebrada se comparada ao Dia das Mães no Brasil. Essa diferença reflete a falta da figura paterna em muitos lares brasileiros. Dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas mostram a existência de mais de 11 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas no país.
Mas, hoje, abrimos espaço para homens que vivem essa realidade. Você vai conhecer histórias que rompem o esperado de pais que equilibram suas obrigações profissionais com os desafios diários da paternidade.
Quando os papéis mudam
Embora ainda sejam minoria, existem casos em que os papéis se invertem. Segundo dados do IBGE de 2015, 3,6% das famílias brasileiras eram chefiadas por pais solteiros.
Um desses exemplos é o do publicitário Eduardo Infantino, pai da Ana Mara, de 7 anos, que está dentro do espectro autista (nível 1 de suporte), e do pequeno Bento, de 4 anos. Divorciado há 1 ano e meio, seu maior desafio foi manter a rotina dos filhos.
“Quando me separei, percebi que eu tentava fazer correções, ajustes, educar e ser o ponto de equilíbrio para que tudo corresse bem. Mas, por não morarem comigo, essas correções nem sempre se mantinham fosse pela rotina diferente, pela distância ou simplesmente por não estarmos juntos no dia a dia. Isso dificultou muito, pois eles não conseguiam manter o foco e acabavam se sentindo perdidos’’, contou.
A ficha só caiu de verdade quando as crianças passaram a morar com ele. Foi nesse ponto de virada que ele compreendeu o novo papel que assumiria na vida dos filhos. ’’Foi nesse momento que entendi: seríamos apenas nós três. Mas, ao mesmo tempo, percebi que finalmente teriam a rotina de que precisavam — com uma educação baseada na responsabilidade afetiva, disciplina, harmonia e respeito entre nós.”
Sobre a criação da primogênita, o publicitário afirma que buscar conhecimento sobre a condição foi fundamental para compreender melhor suas necessidades e hoje colhe os frutos disso.
”Hoje é sucesso. Tudo indo bem e me sinto muito feliz em ter alguém tão inteligente, amiga e fiel junto de mim’’, revelou.
No entanto, o maior desafio, segundo ele, tem sido conciliar as duas rotinas: a profissional e a de pai. Como principal referência dos filhos, ele explica que precisa estar sempre disponível para eles, o que, inevitavelmente, impacta o desempenho no trabalho.
“Sou o ponto de apoio deles, portanto, sempre que precisam de algo, preciso estar 100% disponível, e isso afeta o trabalho, infelizmente”, reconhece.
Ainda assim, ele faz questão de manter a prioridade bem definida: ao chegar em casa, dedica-se integralmente aos filhos, atende às necessidades do momento, e só depois retoma os compromissos profissionais, uma rotina que, como ele próprio define, “é bem pesada”.
Para ser pai basta amar
O fotógrafo Éder Ribeiro de Paula faz parte das famílias em que os pais não têm vínculo biológico, mas emocional. Ele sempre teve uma relação de afeto com a Laura, de 22 anos; o Marcus, de 24; ele também é pai de Mateus, de 17 anos, sendo esse seu filho biológico.
A decisão de assumir a paternidade, mesmo sem laços de sangue, surgiu inicialmente do amor que sentia pela mãe das crianças, Carolina. No entanto, ele destaca que foi o vínculo afetuoso que nasceu de forma espontânea entre eles que realmente fortaleceu essa escolha.
Éder contou quando percebeu que havia se tornado pai e falou sobre os desafios de assumir esse papel.
”Percebi que tudo dependia de mim. Quando as responsabilidades emocionais e financeiras passaram a estar totalmente sobre mim e cada escolha minha afetava diretamente a vida deles. Ser pai é carregar o peso das decisões pensando no bem-estar de quem você ama. E eu assumi esse papel com o coração aberto’’, afirmou.
Ao ser questionado sobre o momento mais marcante da sua trajetória como pai, o fotógrafo confessa que é difícil apontar apenas um. Para ele, os instantes mais significativos não estão nos grandes eventos, mas nos momentos do cotidiano.
“É difícil escolher só um. Foram muitos momentos marcantes e, na verdade, a maioria deles está nos detalhes. É quando eu vejo que eles estão crescendo e levando pra frente algo que ensinei, quando eles me ligam só pra saber se estou bem, quando vêm me visitar com carinho no olhar. São nessas pequenas atitudes que eu percebo que tudo valeu a pena. Ver que eles se tornaram pessoas boas, nesses detalhes eu vejo que valeu a luta’’, se emocionou.

As histórias de Eduardo e Éder mostram um lado da paternidade que ainda é pouco conhecido. Pais que desafiam os padrões sociais, emocionais e culturais, evidenciando que esse papel vai além de prover ou exercer autoridade, mas sim sobre presença, entrega e afeto. Em um país onde tantas crianças crescem sem a figura paterna, eles provam que a paternidade também pode ser construída com escolhas e dedicação diária.