Veterinária alerta sobre benefícios e risco da castração animal

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Por muitos anos, a castração de cães e gatos foi considerada um ato de responsabilidade e amor. No entanto, o procedimento também pode desencadear alterações hormonais, doenças graves e comprometer o sistema imunológico dos animais. Hoje, é fundamental realizar uma avaliação criteriosa para que o pet não seja exposto a riscos desnecessários e a castração indicada apenas quando realmente necessária.

Em entrevista, a médica veterinária Kamila Lara esclareceu mitos e verdades em torno do tema, destacando tanto os benefícios quanto os riscos da castração. Segundo ela, o procedimento deve ser realizado principalmente para o controle populacional, visando reduzir o número de animais nas ruas e em abrigos ou quando há riscos concretos à saúde do pet, como infecções uterinas ou neoplasias testiculares.

Gazeta Digital – Quais são os principais benefícios da castração para a saúde dos animais? 

Doutora Kamila – Castração sempre foi falada como um ato de amor, de promoção de saúde, mas, conforme o tempo foi passando, chegamos a conclusão que não. O benefício da castração é para controle populacional, diminuir a quantidade de animais nas ruas e em abrigos. Também teremos doenças que envolvem o sistema reprodutor, como infecção uterina ou neoplasia testicular.

Gazeta Digital – Existem riscos envolvidos na castração? Quais cuidados devem ser tomados?  

Doutora Kamila – Hormônios sexuais são extremamente importantes para fisiologia do corpo do animal, já que também estão ligados a outros hormônios e neurotransmissores, como cortisol, serotonina, dopamina. A decisão sobre procedimento deve ser avaliada de forma individual. Há estudos que relataram maiores riscos de desenvolver distúrbios reprodutivos, urinários, metabólicos e musculoesqueléticos em cães castrados.

Gazeta Digital – Essas alterações hormonais são prejudiciais ao animal?

Doutora Kamila – Os hormônios sexuais têm papel fundamental para o corpo, quando para a produção temos um desequilíbrio. Exemplo disso, a agressão pode estar relacionada ao medo, que é modulada por hormônios do estresse, como o cortisol, com a testosterona atuando como um antagonista. O cortisol, um hormônio do estresse, é liberado em situações de perigo e pode aumentar o medo e a ansiedade. A testosterona, por outro lado, pode ter um efeito antagonista, reduzindo a reatividade ao estresse em alguns casos. Consequentemente, na ausência de testosterona após a castração, pode-se esperar um aumento do medo e da insegurança.

Gazeta Digital – Há risco de o animal desenvolver doenças após ser castrado? 

Doutora Kamila – Sim, fêmeas castradas têm o risco 11 vezes maior de desenvolver tumores cerebrais e disfunção cognitiva (estrogênio pode ser um protetor contra o envelhecimento cerebral e o crescimento de tumores cerebrais). Aumenta risco de distúrbios articulares, como displasia do quadril, ruptura do ligamento cruzado e displasia do cotovelo (o papel dos hormônios gonadais no controle do fechamento das placas de crescimento ósseo). Aumenta chance de linfoma, mastocitoma, hemangiossarcoma, carcinoma de células transacionais de bexiga e osteossarcoma, incontinência urinária, obesidade, diabete e hiperadrenocorticismo.

Gazeta Digital – Castrar muito cedo pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento do animal?

Doutora Kamila – Quanto mais cedo as consequências são piores, pois o corpo teve pouco contato com os hormônios sexuais. Entretanto, não existe uma idade ideal absoluta para castrar todos os cães e gatos. A idade ideal pode depender de vários fatores, incluindo espécie, raça, tamanho corporal.

Gazeta Digital –   A castração pode afetar negativamente o sistema imunológico?

Doutora Kamila – Como o procedimento altera fisiologia normal do corpo, dessa forma sim. Já que a testosterona, estrogênio e progesterona, por exemplo, podem influenciar a maturação, ativação e resposta de células imunes, assim como a produção de anticorpos e citocinas.

Gazeta Digital – Existe risco de depressão, ansiedade ou letargia após a castração?

Doutora Kamila – Animal pode apresentar a ansiedade, pois pode ficar mais medroso já que não tem a testosterona, dessa forma aumenta o cortisol. Letargia pode ser causada pela obesidade ou alteração do metabolismo. Já sobre a depressão, não há comprovação.

Gazeta Digital – Como o tutor pode perceber se o animal não está se adaptando bem ao pós-castração?

Doutora Kamila – Hormônios demoram alguns meses para parar de circular no corpo, dificilmente o tutor irá perceber algo. Mas existe a possibilidade de dosar hormônios e, se for necessário, repor.

Gazeta Digital – Há alguma raça ou condição de saúde específica que torne a castração mais arriscada?  

Doutora Kamila – Se for a cirurgia, não! Importante procurar um cirurgião e anestesista de confiança.

Gazeta Digital – A castração pode interferir na socialização ou comportamento natural do animal?  

Doutora Kamila – Pode, porém, não podemos atribuir APENAS a castração, já que elementos intrínsecos como sexo, raça, idade e influências externas, como o estilo de vida do cão-dono, personalidade do dono; todas as variáveis auxiliam no desenvolvimento do comportamento do animal.

Gazeta Digital – Em que casos você não recomenda a castração?

Doutora Kamila – Não recomendo nos casos em que os tutores têm apenas um sexo (todos são fêmeas ou machos) ou quando tem só 1 animal.

Matéria: GAZETA DIGITAL
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